sábado, 10 de janeiro de 2015

Comorbidade - Dislexia e Discalculia


Márcia Hiromi YoshimatsuAluna de Iniciação Científica LND Graduanda em Psicologia – Universidade Federal de Minas Gerais
 
Alice Tavares - Aluna de Estágio Básico LND Graduanda em Psicologia – Universidade Federal de Minas Gerais

A discalculia e a dislexia são transtornos específicos de aprendizagem, os quais são classificados como dificuldades crônicas. Ambos trazem diversos prejuízos, não apenas no contexto escolar, mas também na vida cotidiana da pessoa, por exemplo, ter dificuldade de ler e compreender uma palavra nova e textos, como em uma reportagem de revista, ter dificuldade de calcular o troco. Para diagnosticar uma criança com esses transtornos é necessário desconsiderar os casos de retardo mental e situações de desgaste emocional, como, por exemplo, mudança de escola, divórcios dos pais e perda de pessoas próximas. Também é necessário levar em consideração os fatores ambientais, tais como falta de motivação, baixa qualidade do ensino, nível socioeconômico e o ambiente em que a criança vive.
 
O diagnóstico é dado a partir de análise de dados fornecidos por testes que avaliam a inteligência e rendimento escolar da criança. No Brasil, utiliza-se o Teste de Desempenho Escolar – TDE e, segundo o DSM-V, considera-se crianças com transtorno específico de aprendizagem aquelas que ficam no mínimo 1,5 desvios padrão abaixo da média das crianças típicas da mesma faixa etária. Além disso, é preciso que haja uma diferença significante entre a inteligência e o desempenho escolar, sendo este último inferior ao esperado para o quociente de inteligência da criança, e essa diferença deve persistir de uma série para outra.
 
A dislexia é o transtorno da aprendizagem relacionado à leitura e é mais frequente em meninos do que em meninas. A criança com dislexia tem uma dificuldade maior na associação grafema-fonema, ou seja, ela tem dificuldade em decodificar as palavras, não conseguindo atribuir um significado ao que está lendo. O disléxico possui uma dificuldade maior na área verbal (ex. linguagem escrita e oral) do que na não verbal (ex. linguagem simbólica). Além desses déficits já citados, a criança apresenta dificuldades na memória de trabalho (ex. compreender uma frase, pois é necessário lembrar das palavras que acabou de ler para que no fim a frase faça sentido), no reconhecimento de letras (ex. diferenciação entre “b”,“d”; “p”, b”; “u”, “v”) e apresenta grande dificuldade em provas de consciência fonológica. A prevalência desse transtorno é de 6-7% e sua causa é multifatorial. Na dislexia, ocorre uma errônea migração neuronal em áreas perisilvianas esquerdas e alteração morfológica de áreas corticais como o sulco temporal superior posterior, giro fusiforme e a área de Broca no hemisfério esquerdo. Esse transtorno pode estar vinculado às síndromes de Down e Klinefelter, porém devem ser desconsiderados os problemas auditivos.
 
A discalculia do desenvolvimento ou transtorno específico da habilidade em aritmética, é a dificuldade de uma pessoa compreender e manipular números e símbolos matemáticos. Pode apresentar, em alguns casos, déficits na coordenação motora, visoespacial e na memória de trabalho. Além disso, discalcúlicos podem apresentar dificuldades em nomear termos e símbolos da matemática, em manipular valores e objetos reais e matemáticos, na significação de símbolos numéricos, na escrita de números, na compreensão e execução de conceitos matemáticos e operações mentais. Esse transtorno está presente em 3-6% da população. Pode estar associado a questões genéticas, como na síndrome de Turner, na síndrome do X frágil, na síndrome velocardiofacial, na síndrome de Williams, as quais estão relacionados com problemas de loci gênicos específicos; relacionado também com a síndrome fetal alcoólica e influências ambientais. Pessoas com discalculia apresentam alterações morfofuncionais no sulco intraparietal e no giro angular do hemisfério dominante.
 
Existe uma grande comorbidade entre os transtornos de aprendizagem, principalmente entre a dislexia e discalculia. Um estudo com uma amostra de 799 crianças em idade escolar publicado no Journal of Learning Disabilities, em 2008, constatou que 15% das crianças com discalculia também apresentavam o transtorno da leitura, e 7% com dislexia apresentavam transtorno na matemática. Na realização de cálculos matemáticos utiliza-se o senso numérico, memória operacional, além de representações simbólicas verbais, assim, quem apresenta dificuldades nas representações verbais, como disléxicos, também terá dificuldade na hora de realizar algumas operações e principalmente problemas matemáticos, que exigem leitura e compreensão do texto.
A discalculia e a dislexia são transtornos que causam prejuízos na vida acadêmica e profissional de muitas pessoas. Devido à dificuldade de diagnosticar esses transtornos, seria o ideal desenvolver políticas na área de educação que identificassem previamente os sintomas para que houvesse uma intervenção mais efetiva de forma a facilitar a aprendizagem, tentando preencher as lacunas existentes causadas pelos transtornos.
 
Referências:
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