sábado, 3 de janeiro de 2015

Disléxicos Famosos: Leonardo da Vinci

 
Leonardo da Vinci para além de ter sido um pintor de exceção, sendo a Última Ceia e Mona Lisa duas das suas pinturas mais conhecidas, figurando no inventário universal como duas das melhores obras de todos os tempos, foi ainda um exímio escultor, arquiteto e engenheiro, para além de geólogo, astrónomo, matemático, inventor e, até, músico. É, portanto, posso afirmá-lo com toda a convicção, um homem da renascença por excelência, talvez o seu arquétipo. Um dos maiores génios da humanidade, difícil de igualar, talvez o génio universal. Assim sendo, os trabalhos de Leonardo da Vinci refletem, sem margem de dúvida, o seu génio criativo, deixando-nos perplexos com a afoiteza das suas criações e levando-nos a refletir sobre o grande património mundial que é a mente humana, havendo, assim, que preservá-la, incentivá-la e respeitá-la. E é por aqui que vou, deformação profissional (?), tendo Leonardo da Vinci como exemplo.
 
Leonardo da Vinci, génio, cuja sobredotação (inteligência, criatividade) seria incomensurável, mas também Leonardo da Vinci, enigmático, a escrita em espelho, a obsessão por alavancas e engrenagens para construir mecanismos apostos ao movimento, de tal forma que constituíram talvez o âmago de quase todas as suas invenções, a sua procrastinação crónica. Será que era portador de uma qualquer necessidade especial? Na minha ótica, sim. A escrita em espelho, cuja explicação é dada por muitos estudiosos como possível estratégia para esconder as suas invenções dos outros, para que lhe não roubassem as suas ideias, creio que terá a ver com as dificuldades de aprendizagem específicas, neste caso concreto, com a dislexia, uma vez que a maioria das suas anotações para descrever os seus inventos que, como disse, era feita escrevendo da direita para a esquerda, é uma característica dos indivíduos esquerdinos com dislexia. Leonardo da Vinci era esquerdino. A sua quase obsessão por alavancas e engrenagens e a sua procrastinação crónica são características que podem muito bem enquadrar-se numa desordem por défice de atenção ou, mesmo, numa síndroma de Asperger. E se assim é, estou convencido que assim foi, então estaremos perante uma “dupla excecionalidade”, a de um génio, talvez a pessoa mais talentosa que alguma vez existiu, e a de um indivíduo com necessidades especiais que soube, provavelmente apoiado no seu imenso talento, na sua perseverança, contorná-las.
E as nossas crianças talentosas, mas com dificuldades de aprendizagem específicas e/ou com desordem por défice de atenção/hiperatividade, ou com síndroma de Asperger? Quantas, mesmo tentando apoiar-se no seu talento, terão ficado pelo caminho do insucesso? É que, infelizmente, no nosso país, o sistema educativo não reconhece as crianças com dificuldades de aprendizagem específicas como recetoras de serviços especializados, comummente designados por serviços de educação especial, deixando-as totalmente entregues à sua sorte. E a sua sorte é, geralmente, o infortúnio da retenção. Das retenções que levam ao abandono escolar.
Nesta perspetiva, como vejo os trabalhos de Leonardo da Vinci? Como testemunho do poder da mente em alcançar o inalcançável e como confirmação de que as necessidades especiais podem coabitar admiravelmente com o talento, neste caso com o génio.
Esta coabitação leva-me a pedir aos adultos deste nosso País, aos pais e às mães, para não se esquecerem de sensibilizar os seus filhos para a diferença tão bem retratada na “dupla excecionalidade” de Leonardo da Vinci e, tendo por base essa “dupla excecionalidade”, para os encorajarem a compreender não só a importância das nossas capacidades, por vezes elevadíssimas, mas também das nossas necessidades, por vezes a precisarem de apoios vários, especializados amiúde. Uma palavra acrescida para os pais das crianças com dificuldades de aprendizagem específicas, crianças cujos problemas de origem neurológica (dislexias, disgrafias, discalculias) as levam a experimentar insucesso numa ou mais áreas académicas e até no ajustamento social, apesar de possuírem uma inteligência tantas vezes acima da média: Lutem pelos seus direitos. Leonardo da Vinci pode servir-lhes de modelo e, a vós, de incentivo para pressionarem os responsáveis pela educação a disponibilizarem serviços especializados, se esse for o caso, para que os vossos filhos possam abraçar o sucesso que merecem.

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