O que é

 Dislexia


 Trata-se de um problema caracterizado pela dificuldade na fluência correta da leitura e na habilidade de decodificação, alteração na discriminação dos sons, consciência fonológica e limitação da memória de curta duração. Podem também apresentar problemas com a memória verbal de longa duração, devido à dificuldade de formar léxico (vocabulário) para a estocagem, com consequente prejuízo no desempenho da leitura de palavras irregulares, não frequentes, pseudopalavras (palavras que não existem), no crescimento do vocabulário e na compreensão do material lido. Dificuldades na leitura e escrita exclusivamente.

 Para a criança ter diagnóstico de dislexia, ela deve apresentar nível cognitivo normal, ausência de deficiências sensoriais (déficits auditivos e/ou visuais), ajuste emocional e acesso ao ensino adequado. “Alguns autores enfatizam que não é possível classificar uma criança como portadora de dislexia até que se faça, pelo menos, uma tentativa adequada de instrução acadêmica”, diz Patricia.

 Os principais fatores de risco para dislexia no seu filho são: fala ininteligível; imaturidade fonológica (não identifica palavras que começam com o mesmo som, as rimas...); redução do vocabulário; dificuldade em aprender o nome das letras ou os sons do alfabeto; dificuldade para entender instruções, compreender a fala ou material lido; dificuldade para lembrar números, letras em sequência, questões e direções; dificuldade para lembrar sentenças ou estórias; atraso de fala; confusão direita-esquerda, embaixo, em cima, frente-atrás (palavras-conceitos) e dificuldade em processar os sons das palavras.

 É muito comum a associação de dislexia com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDA/H), taxas que variam entre 25% a 40%. Torna-se assim inquestionável a necessidade de avaliar TDA/H como comorbidade em crianças com dislexia. O TDA/H tem como característica essencial o padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais frequentes e severos em relação aos seus pares. Os sintomas iniciam-se por volta dos 3 a 7 anos, e persiste na adolescência e vida adulta em mais da metade dos casos. Em relação à etiologia, o TDA/H apresenta base neurobiológica e forte hereditariedade. Evidências indicam fatores genéticos e neurológicos como as principais causas prováveis, reduzindo bastante o papel de fatores puramente sociais. Entretanto, ressalta-se que os fatores sociais podem contribuir no desenvolvimento de comorbidades associadas, e não do TDA/H. As causas mais comuns são: complicações gestacionais ou parto; lesões cerebrais adquiridas; toxinas, fumo e álcool na gestação; prematuridade; baixo peso ao nascimento e possivelmente, níveis elevados de fenilalanina em mães com fenilcetonúria.

 Um importante problema atual, em alguns grupos sociais, são as expectativas pedagógicas acima das capacidades, habilidades e interesses da criança. Expor a criança a situações de aprendizagem extremamente difíceis ou muito fáceis (além ou aquém da sua capacidade) levam a desinteresse, desmotivação e distração. Tal situação tem graves consequências, acarretando frustração, fracasso, insucesso, baixa autoestima, além de estresse familiar e escolar. Famílias que sobrecarregam seus filhos com agendas lotadas e pouca qualidade de sono contribuem para o mau desempenho escolar de seu filho.

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A evolução histórica da Dislexia


O interesse pelo estudo da Dislexia não é recente. Esta problemática tem sido estudada desde os finais do séc. XIX, em especial a partir de 1896.
A Dislexia tem tido diferentes designações: “cegueira verbal congénita”, “dislexia congénita”, “estrefossimbolia”, “alexia do desenvolvimento”, “dislexia constitucional” ou até mesmo “parte do contínuo das perturbações de linguagem, caracterizado por um défice no processamento verbal dos sons” (Teles, 2004:714).
Estudos recentes mostraram-nos que este conceito tem sofrido alterações muito profundas desde as primeiras conclusões de Brocca e Wernicke, que  ainda hoje influenciam investigações atuais (Ribeiro& Baptista, 2006).
Estas alterações deram-se em quatro momentos distintos, de acordo com Sauvageot e Métellus (2004, cit in Ribeiro & Baptista, 2006):
 

1- Fase inicial (1896-1917)

  • estudos de Paul Brocca, efetuados em 1860, com investigações post-mortem em indivíduos vítimas de lesão cerebral, cuja capacidade de falar tivesse sido totalmente afetada;
  • Paul Brocca descobriu que os dois hemisférios cerebrais funcionavam de forma diferente e que as dificuldades na fala e na linguagem eram causadas pela Área de Brocca;
  • descoberta da Área de Wernicke, essencial ao processamento da linguagem;
  • W. Pringle Morgan, médico inglês, estudou pormenorizadamente o caso de Percy, um jovem inteligente mas cujo potencial académico foi bastante afetado por uma perturbação da linguagem. Percy não conseguia ler palavras, mas continuava a revelar uma boa capacidade de leitura de números e resolução de cálculos. Este foi, em 1896, o primeiro caso oficial de dislexia;
  • Embora utilizada por muitos especialistas, é a Adolph Kussmaul que se deve a origem deste conceito;
  • James Hinshelwood chegou à conclusão que um desenvolvimento insuficiente do girus angular do hemisfério esquerdo (zona que processa a memória visual das palavras) (Hennigh, 2008; Cruz, 2009) origina dificuldades de leitura, dando-se mais um passo na concretização do que é a dislexia;
  • Foi também neste período que se empregou o termo “afasia” para designar uma “perda ou diminuição da capacidade para usar ou compreender palavras, devido a uma lesão cerebral” (Hennigh, 2008:13).


 2- Evolução (1920-1936)
Em 1928, Samuel Orton pretendeu refutar as descobertas de Hinshelwood, referindo que as dificuldades de leitura se deviam unicamente à falta de dominância de um dos hemisférios cerebrais (Snowling& Stackhouse, 2007). A dominância de um deles era essencial para que houvesse uma boa aquisição da leitura. Orton reforçou a ideia de que a falta de dominância de um hemisfério sobre o outro provocava aquilo a que designou de “estrefossimbolia”, ou seja, a inversão de símbolos, que deu origem à atual problemática das inversões na dislexia (Hennigh, 2008);
  • em 1926, Henry Head, um consagrado neurologista, fez notáveis progressos no estudo da aquisição e da perda da linguagem, provando que uma lesão no cérebro era suficiente para provocar diversas desordens, dependendo da área afetada.
3- Escola Francesa (1937-1960)
  • Intenso interesse verificado em França, sobretudo entre 1937 e 1960;
  • em 1937, foi organizado em França o Congresso Internacional de Psicologia da Criança;
  • após a realização deste congresso, surgiu na Dinamarca o primeiro centro terapêutico para alunos disléxicos, para avaliação e intervenção (Ribeiro & Baptista, 2006).

4- Período Moderno – 1960 - ...
  • Credibilização da dislexia de desenvolvimento pela Federação Mundial de Neurologia, em 1968 (Teles, 2004), tendo a Dislexia sido definida como “uma perturbação que se manifesta através de dificuldades de aprendizagem da leitura, a despeito de instrumento convencional, inteligência adequada e oportunidades sócio-económicas” (Ribeiro & Baptista, 2006:35);
  • em 2001, Eraldo Paulesu confirmou a universalidade da Dislexia. Para este investigador e Ribeiro e Baptista (2006:36), “a base neurocognitiva da dislexia é universal, só a manifestação da perturbação difere segundo a língua";
  • neste último momento foram construídas duas das mais completas definições de dislexia: em 1994, o Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-IV), entretanto revisto para DSM-V e em 2003, a Associação Internacional de Dislexia.
 
 
Referências bibliográficas:
  
Cruz, V. (2009). Dificuldades de Aprendizagem Específicas. Lisboa: Lidel
 
Hennigh, K. A. (2008). Compreender a dislexia - um guia para pais e professores. Porto: Porto Editora

Ribeiro, A. B. & Baptista, A. I. (2006). Dislexia - compreensão, avaliação, estratégias. Coimbra: Quarteto

Snowling, M. (2007). Dislexia desenvolvimental: uma intodução e visão teórica geral. In  M. J.  Snowling & J. Stackhouse. Dislexia, fala e linguagem – um manual do profissional (Cap. 2, 11-21). Porto Alegre: Artmed

Teles, P. (2004). Dislexia: Como Identificar? Como Intervir?
 
 

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Resumidamente, dislexia é:

“A dislexia é um distúrbio do funcionamento do cérebro para todo processamento linguístico. Devido a falhas nas conexões cerebrais, o disléxico não consegue associar o símbolo gráfico e as letras ao som que elas representam, o que dificulta à escrita, leitura e soletração”, diz Paulo Breinis, neurologista do Hospital São Luiz Jabaquara e Hospital da Criança.
O quadro de dislexia só identificado a partir dos oito anos de idades com a ajuda de testes aplicados por profissionais de várias áreas como neuropsicólogo, pedagogo, psicólogo e fonoaudiólogo. Porém, é possível ficar atento a algumas características como atraso na fala, má coordenação motora, memória curta, imaturidade e desinteresse por livros e jogos de raciocínio como quebra-cabeça. Os pais e professores podem já começar a ficar atentos e conversar com especialistas que poderão auxiliar melhor a lidar com o caso até conseguirem realizar o teste.
Por se tratar de uma doença genética, a dislexia não tem cura. O que existe é a conscientização do problema e compreensão das limitações. “O tratamento da síndrome não é feito com medicação, mas sim com acompanhamento de pedagogos e fonoaudiólogos. Esses profissionais ensinam a criança a escrever e ler de acordo com suas restrições”, explica Paulo Breinis.
Nenhuma mãe quer que seu filho enfrente nenhuma dificuldade, mas a dislexia não é uma condição limitante, seu filho poderá ter um futuro brilhante, como um grande estudioso até, mesmo que seu tempo de aprendizado seja diferente. Conheça alguns disléxicos famosos:
  • Whoopi Goldberg
  • Agatha Christie (a escritora)
  • Tom Cruise
  • Albert Einstein
  • Charles Darwin
  • Vincent Van Gogh

 
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O que é a Dislexia?
 
 
A dislexia é uma questão de linguagem, não uma questão visual e em nada resulta de qualquer falta de inteligência. Pessoas com dislexia, embora encontre mais dificuldade no aprendizado, podem ser brilhantes.
 
Estas dificuldades resultam tipicamente de um déficit no componente fonológico  que muitas vezes é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas. Conseqüências secundárias como problemas de compreensão da leitura acarretando a redução do interesse pela própria leitura irão reduzir o conhecimento de vocabulários.
 
Logo, alguém com dislexia demonstra uma dificuldade no aprendizado, mas não por possuir baixa inteligência, mas sim pela dificuldade que o cérebro tem em organizar as palavras que lêem. Essas mesmas pessoas geralmente pode entender as mesmas palavras quando são lidas em voz alta por outra pessoa.
 
A Dyslexia Association, na Austrália afirma: “A pessoa disléxica pode ser bem sucedida por causa de suas habilidades. Um disléxico pode lutar para ter sucesso por causa de suas experiências negativas no ambiente de aprendizagem, não por causa da dislexia.”
 
Embora presente em todas as etnias, a lingua nativa de uma pessoa desempenha um papel importante no problema. A língua em que há uma ligação clara entre a forma como a palavra é escrita e como parece, somando regras gramaticais consistentes, como italiano e espanhol, pode amenizar os problemas de quem dislexia leve ou moderada.
 
No entanto, línguas como o Inglês, onde muitas vezes não há ligação clara entre a forma escrita e som, por exemplo palavras como “cough‘ e ‘dough’, respectivamente tosse e massa, pode ser mais complicado para uma pessoa com dislexia.
 
 
O que é Dislexia:
 
 
Dislexia é um distúrbio específico da linguagem, congênito e hereditário, caracterizado pela dificuldade de decodificar palavras simples. Não é uma doença, mas sim uma dificuldade de aprendizagem, na qual a capacidade da criança para ler ou escrever está abaixo do seu nível de inteligência.
 
A palavra "dislexia" significa "dificuldades na leitura e na escrita", onde dis = distúrbio, lexia (latim)  leitura; (grego) = linguagem. A dislexia mostra uma insuficiência no processo fonológico, em que as dificuldades de decodificar palavras simples não são esperadas em relação a idade.
 
Mesmo recebendo uma instrução convencional, tendo inteligência adequada, oportunidade sociocultural e não apresentando distúrbios cognitivos e sensoriais, há uma falha no processo de aquisição da linguagem por parte da criança. A dislexia manifesta-se através de várias formas de dificuldade, com as diferentes formas de linguagem, incluindo frequentemente problemas de leitura, aquisição e capacidade de escrever e soletrar.
 
Tipos de Dislexia
Dislexia Acústica
Caracteriza-se pela insuficiência para a diferenciação acústica dos fonemas e na análise e síntese dos mesmos, ocorrendo omissões, distorções, transposições ou substituições de fonemas. Os fonemas são confundidos devido à sua semelhança.
 
Dislexia Visual
A criança apresenta falta de precisão na coordenação viso-especial, o que se manifesta na confusão de letras parecidas graficamente.
 
Dislexia Motriz
Há dificuldade para o movimento ocular, com nítida limitação do campo visual, levando a retrocessos e, principalmente, intervalos mudos durante a leitura.
 
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Dislexia: conhecer é a melhor forma de tratar
 
Distúrbio afeta aproximadamente 5% da população brasileira e atrapalha a leitura e a escrita. O diagnóstico de uma criança disléxica pode ser feito a partir da alfabetização
 

O diagnóstico da dislexia não quer dizer que se filho esteja condenado a não aprender

As notas vermelhas já irritaram muitos pais e professores, mas elas podem ser indicadores de um problema mais sério do que desinteresse e desleixo: a dislexia, um distúrbio que afeta a capacidade de ler e escrever. A condição afeta cerca de 5% da população brasileira, de acordo com o Instituto ABCD, organização social voltada para jovens com dislexia e outras dificuldades de aprendizagem, e 17% da população mundial.
Por se tratar de uma herança genética e não ter relações com distúrbios psicológicos, a dislexia não tem cura, mas o tratamento, feito com fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos, costuma trazer uma vida normal aos portadores do transtorno, já que segundo especialistas o desenvolvimento intelectual e a capacidade de comunicação não são afetados.
O diagnóstico de uma criança disléxica pode ser feito a partir da alfabetização, e é aí que o papel do professor se torna imprescindível. Geralmente, é ele quem percebe que a evolução do aluno está abaixo da esperada. Se esse for o caso, a criança deve ser submetida à análise de uma equipe para saber se ela tem dificuldades pontuais ou se é disléxica.
Saber se a pessoa é portadora de dislexia e as características do distúrbio é o melhor caminho para ajudá-la e evitar prejuízos no desempenho escolar e social, além de títulos pejorativos e bullying que levam à baixa-estima.
Sintomas
 Crianças com dislexia costumam demorar mais para ler do que as outras. Isso acontece porque elas têm dificuldade em identificar palavras e associá-las a seus sentidos. O problema prejudica a consciência fonográfica, isto é, a habilidade de diferenciar sons parecidos. Assim, letras com pronúncias semelhantes, como B e D, costumam ser trocadas na escrita, o que gera erros ortográficos. Crianças disléxicas também têm dificuldade de memorizar regras de ortografia e até de juntar duas letras para formar uma sílaba simples.
Pela dificuldade de formar palavras e dar significados a elas, os portadores do distúrbio costumam apresentar lentidão na hora de construir frases. Muitas vezes, as sentenças têm sentido, mas são gramaticalmente incorretas, como “eu era com fome”. A criança também pode escrever palavras de trás para a frente, como se o texto tivesse sido colocado diante de um espelho. A escrita espelhada é decorrência da dificuldade na formação de palavras e no aprendizado do alfabeto.
A dislexia afeta, ainda, a memória operacional, conhecida popularmente como memória de curto prazo, acionada para anotar um número de telefone antes de esquecê-lo ou ao realizar operações matemáticas. Por isso, ordens longas – como abrir um determinado livro em uma determinada página e fazer um determinado exercício – são um desafio para os disléxicos.
Não é o fim
 O diagnóstico da dislexia não quer dizer que se filho esteja condenado a não aprender. Pelo contrário, a Associação Brasileira de Dislexia apresenta vários casos de pessoas que apresentaram o distúrbio e foram altamente produtivas – algumas chegaram a mudar a história, devemos muito a elas!
É o caso de Charles Darwin e Albert Einstein. Sim, eles eram disléxicos, segundo a associação. A atriz Whoopi Goldberg, a escritora Agatha Christie, o ator Tom Cruise, a cantora Cher, o ex-presidente norte-americano Franklin Roosevelt e os pintores Vincent Van Gogh e Pablo Picasso também apresentavam dislexia.

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Dislexia Adquirida,
Lou de Olivier e Trajetória das Pesquisas


A Dislexia Adquirida foi identificada por Lou de Olivier noventa e oito anos após a primeira detecção da Dislexia (isolada) pelo Médico alemão Oswald Berkhan. Aliás, foi em livro alemão que Lou de Olivier percebeu que havia "adquirido" este distúrbio durante o afogamento que sofreu em 1978. E passou a defender a possibilidade de um distúrbio, no caso, a dislexia ser adquirido numa anoxia/hipóxia (diminuição/ausência de oxigenação cerebral)

Atribui-se a Oswald Berkhan, médico alemão, a primeira identificação da dislexia em 1881, mas o termo "dislexia" foi cunhado em 1887 por um oftalmologista também alemão, Rudolf Berlin. Apesar do termo ser citado na Alemanha desde aquela época, demorou para ser usado em outros países, especialmente no Brasil, onde, até algumas décadas atrás, ainda se intitulava Cegueira verbal e até hoje há quem defenda apenas a causa hereditária/genética, negando-se a aceitar a evolução das pesquisas não só de Lou de Olivier mas de diversos outros profissionais e pesquisadores de dislexias no mundo todo.

Trajetória das pesquisas:
1896: W. Pringle Morgan descreveu a “Cegueira de Palavra Congenital” publicado em British Medical Journal..

1890 a 1900: James Hinshelwood publicou vários artigos sobre dislexia e publicou, em 1917, livro “a Cegueira de Palavra Congenital”, sugeriu que o maior problema na dislexia era a deficiência na memória visual de palavras e letras. Lesão cerebral era outra causa muito estudada mas, em 1925, Samuel T. Orton escreveu que a dislexia não dependia de lesão ou dano cerebral. Orton, em parceria com a Psicologa Anna Gillingham, desenvolveu as intervenções educacionais que formaram a base do ensino multisensorial que até hoje são usadas para ensinar crianças disléxicas.

1951 G. Mahec fez experimento em que percebeu que crianças sem dislexia leram da esquerda para a direita mais facilmente e crianças disléxicas leram na mesma velocidade independente do sentido que liam e 10% dos disléxicos leu melhor da direita para a esquerda. Isso deu início à ideia do hemisfério esquerdo ser maior nos portadores de dislexia. Esta ideia seguiria por muitos anos até que Lou de Olivier elucidou este tema (em 2003)

Nos anos 70 entendeu-se a importância da consciência fonológica na dislexia. Em 79, enquanto Lou de Olivier afirmava sua  “Dislexia Adquirida” num afogamento, Galaburda e Kemper relataram suas descobertas após observarem cérebros pós-autópsias das pessoas disléxicas,que os centros de línguas nestes eram diferentes dos normais. Por ter perdido a capacidade de leitura, Lou dependia de amigos que liam para ela livros sobre psiquiatria e correlatas. Foi num livro alemão, (do qual Lou, infelizmente, não recorda o título), lido por um amigo que tinha fluência no idioma, que Lou verificou os sintomas descritos e teve certeza de ter adquirido o referido distúrbio. Os principais sintomas eram ausência de memória, incapacidade de leitura, ausência de concentração.

Passou a relatar sua descoberta a todos os Médicos que a atendiam porém nenhum deles se convenceu pelos seus argumentos. Até porque o distúrbio dela era novo, ela escrevia com certa fluência mas não conseguia ler em Português e perdera a capacidade de falar, ler e escrever em outros idiomas. As pesquisas mais avançadas na época eram com cérebros de disléxicos falecidos, Médicos estudavam a diferença do centro de linguagem nos cérebros disléxicos versus não disléxicos. Como admitiriam a possibilidade de se “adquirir um distúrbio”? Parecia-lhes apenas um grande devaneio de uma adolescente desmemoriada.

Uma busca pelo Google acadêmico dá uma série de artigos com títulos que remetem à Acquired Dyslexia publicados a partir de 1977, porém, lendo-os na íntegra percebe-se que estudos preocuparam-se com inabilidade de leitura deixando em aberto as causas que levaram à Dislexia e até hoje as comprovações oficiais são voltadas à Dislexia Adquirida por AVC e outras doenças cerebrais. Lou desde 1978 defendeu a Dislexia causada por acidentes com privação de oxigênio no cérebro (Afogamentos, enforcamentos, anoxia/hipóxia perinatal/neonatal)

Após três anos de testes e exames em que os Médicos afirmavam não detetar nada físico e recusavam-se a aceitar a teoria que esta defendia, a de ter “adquirido uma dislexia”, restavam a ela só duas opções: Conformar-se em viver desmemoriada para sempre ou busca, de forma independente, solução ao seu caso. Cursava teatro para auxiliar a recuperação de memória e já conseguia, com dificuldade, ler, mas esquecia tudo assim que lia. Passou a gravar tudo que precisava lembrar, textos, artigos, livros e ouvir as gravações de forma contínua, inclusive, durante o sono. Este método deu origem ao que hoje ela aplica como Multiterapia. Obviamente, hoje, com muito mais bases científicas.

Em 1981 recuperou a fluência de leitura e passou a pesquisar com mais intensidade, já não dependia de ninguém para ler para ela. Seguiu pelo bacharelado em Artes Cênicas e estudou Musicoterapia, englobando os recursos das Artes no método que já apresentava bons resultados com portadores de autismo e Down.

Entre 1981 e 1996, ano em que publicou o primeiro artigo oficial sobre a Dislexia Adquirida, Lou cursou Psicopedagogia, Neuropsicologia, Psicanálise e muitos treinamentos em Psiquiatria. Em 1989, seguindo a linha de pesquisa de Galaburda e Kemper, surgiram estudos de Cohen e outros desenvolvimento cortical era danificado nos primeiros seis meses do crescimento fetal do cérebro nos disléxicos. Pesquisas oficiais sugeriam a genética/hereditariedade e, os anos 90 trouxeram técnicas de neuroimagem com mais pistas sobre o processamento fonológico nos disléxicos. Ninguém cogitava a possibilidade do distúrbio adquirido em acidente e nem uma anoxia ou hipóxia perinatal.

Mas agora Lou não era mais só uma jovem desmemoriada, já se posicionava como Psicopedagoga e Psicoterapeuta, com especializações, extensões e, acima de tudo, com sua vivência prática. Com força e determinação seguiu publicando, palestrando, divulgando a dislexia adquirida no Brasil e exterior, especialmente Europa (Inglaterra e Portugal), onde escreveu em revistas impressas e eletrônicas, sugeriu a muitos pesquisadores que verificassem a possibilidade de aquisição de um distúrbio e conquistou dois prêmios.

A partir de 1996 foram 9 livros didáticos, inúmeros artigos em revistas e jornais, entrevistas em rádio e TV, além de dois programas próprios Lou e Você (1999) e De tudo um pouco (2008/2009), sempre elucidando a Dislexia Adquirida e distúrbios diversos.
Em 2011/2012 a Dislexia Adquirida foi oficializada nos descritores da Saúde, Português, Espanhol e Inglês (Acquired Dyslexia). Hoje encontra-se a descrição de Dislexia Adquirida em diversos sites, artigos e em descritores oficiais como National Library of Medicine - Medical Subject Headings, inclusive, variações da dislexia adquirida tais como Acquired Global Dyslexia, Acquired Spelling Dyslexia, Acquired Alexia entre outros que virão.

E isso só é possível porque Lou de Olivier não se acomodou com um diagnóstico fatalista, ela estudou, pesquisou, impulsionou outros pesquisadores, encontrou a solução para sua dislexia adquirida e levou suas descobertas a todo o mundo. Leia este artigo na íntegra e com detalhes de pesquisa:
 
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Dislexia e os impactos na vivência escolar

Dislexia e os impactos na vivência escolar

Por Rafael Pinheiro

A educação, inserida em um contexto global de trocas de conhecimento, interação e compreensão das diferenças, visa a valorização de um ensino focado na heterogeneidade. O ambiente escolar é a porta de entrada do encontro (e da descoberta) do outro e suas relações, enriquecendo as interações e as dinâmicas em grupo. No intrínseco convívio escolar, nascem as mais diferentes dificuldades em diversas situações. Sendo assim, é de suma importância acompanhar o progresso de cada aluno e constatar obstáculos que possam atrapalhar qualquer avanço.
O transtorno genético e hereditário da linguagem, conhecido como dislexia, é caracterizado pela dificuldade em decodificar o estímulo escrito ou o símbolo gráfico. A dislexia, que possui uma origem neurobiológica, compromete a capacidade de aprender a ler e escrever com fluência e de compreender um texto. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, esse transtorno atinge de 0,5% a 17% da população mundial e pode atravessar a infância e persistir na vida adulta.
O panorama atual das instituições de ensino prevê uma série de metodologias pedagógicas, conteúdos, objetivos, organizações e funcionamentos que os portadores de dislexia não acompanham. Os alunos que conseguem resistir e driblar os modelos, exigências e as cobranças dos professores, podem encontrar as humilhações e as práticas de bullying por outros alunos nas salas de aula, por apresentar essa dificuldade no aprendizado.
Tendo a compreensão da diferença como pano de fundo para uma excelência no ensino, um dos primeiros passos para o educador lidar com esse tipo de transtorno em sala de aula é identificar um aluno disléxico. “Devemos prestar atenção se a criança apresenta atraso na fala, dificuldades para nomear as coisas e pessoas, para aprender rimas e cantigas. Se quando alfabetizada manifestar ainda dificuldades para adquirir estas habilidades, demonstrando um atraso não esperado em relação aos seus pares”, explica a psicopedagoga clínica Tânia Freitas, especialista em distúrbios de leitura, escrita e dislexia.
No ensino fundamental, se a leitura não for fluente, sem modulações, se apresentar vocalizações em leitura silenciosa ou cometer trocas, por exemplo: “faca” por vaca; “tuparão” por tubarão; “cato” por gato; “juva” por chuva, etc., é preciso ficar atento. “Já na escrita aparecem as dificuldades na codificação: trocas (visuais e auditivas), migração e omissão de letras; aglutinação e separação de palavras; dificuldade para copiar de livros ou lousa. A criança se apresenta lenta, se cansa rapidamente e demonstra grande dificuldade para produzir um texto, não conseguindo organizar suas ideias e expressá-las por escrito (sendo que oralmente desempenha bem esta atividade, sendo até muito criativa)”, destaca a psicopedagoga.
É necessário que o diagnóstico da dislexia seja precoce, se possível nos primeiros anos da educação infantil, envolvendo as crianças de 4 a 5 anos de idade. Uma criança que não automatiza a leitura, por exemplo, apresenta deficiências em todo o seu processo de aprendizagem, e isto não significa apenas e meramente defasagem de conteúdo acadêmico, mas prejudica toda a sua evolução. Quando a dislexia não é diagnosticada na educação infantil, os distúrbios ganham uma intensidade, apresentando perturbações emocionais e afetivas em crianças do ensino fundamental, de 8 a 9 anos de idade.
Segundo a especialista Tânia Freitas, a criança sofre diversas frustrações no “universo do aprender”, acarretando graves problemas afetivo-emocionais, como insegurança, baixa estima e dificuldades para se relacionar. “Em nossa instituição de ensino, onde nem se identificam as competências e as habilidades do educando, o aluno perde as oportunidades de evoluir como poderia, tendo grandes prejuízos em todos os aspectos de sua vida: acadêmico, pessoal, afetivo e social”.
Um distúrbio de aprendizagem com caráter genético e hereditário como a dilexia não possui cura e o tratamento exige a participação de especialistas em várias áreas (pedagogia, fonoaudiologia, psicologia, etc.) para ajudar o portador de dislexia a superar, na medida do possível, o comprometimento no mecanismo da leitura e da expressão escrita.
O fator primordial, dentro do processo de tratamento, é harmonizar a relação entre escola, criança e família. A escola precisa demonstrar interesse em adequar-se ao aluno, interagir com a equipe que está tratando da criança, no sentido de alterar rotinas, fazer avaliações orais, etc.  “A escola e a família podem e devem fazer parceria com o profissional, auxiliando-o na escola e em casa. Os pais e a escola podem estimular o prazer pela leitura com os disléxicos, lendo com eles ou se preciso for, lendo para eles, apenas para descobrirem juntos o prazer de ler, o universo mágico da leitura. Desenvolver brincadeiras simples, as quais estimulam a linguagem oral e habilidades fonológicas (como aquelas onde a criança diz palavras que comecem com o som ‘tal’, ou as brincadeiras de rima, estimular o hábito de ouvir musiquinhas infantis e cantá-las, leitura de poemas, parlendas e tantas outras brincadeiras que andam esquecidas…)”, afirma Tânia.
Com o auxílio e estímulo no ambiente familiar, escolar e o acompanhamento psicopedagógico especializado, a criança disléxica consegue desenvolver sua habilidade de leitura/escrita. O tempo de tratamento depende de fatores como o grau da dislexia (leve, médio e severo – sendo o grau severo uma raridade) e de outros transtornos que podem coexistir associados à dislexia, como: transtorno e déficit de atenção e hiperatividade, alterações no processamento auditivo, discalculia, disgrafia, disortografia, problemas afetivo-emocionais, entre outros.
Reconhecer as diferenças e aprender a trabalhá-las em sala de aula é a chave para uma educação igualitária. Ensinar um aluno disléxico é um extenso convite ao seu universo particular, buscando (e criando) novos horizontes, panoramas, experiências e conquistas significativas.

 
 
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9 questões à volta da Dislexia
 
1-A dislexia é comum?
 A dislexia é um distúrbio muito comum, sendo o principal diagnóstico associado ao baixo rendimento escolar. De modo geral, ela acomete entre 5 a 17% da população mundial, um pouco mais de meninos em relação às meninas. A doença existe em todos os continentes e sociedades que utilizam a escrita. É uma disfunção que perdura em algum grau por toda a vida, então crianças disléxicas tornam-se adultos disléxicos. É fundamental o diagnóstico precoce e o tratamento direcionado para que a pessoa atinja todo seu potencial escolar e profissional.
 
2-O que é dislexia?
 Dislexia é uma palavra que deriva do grego. “Dis” (dus) significa dificuldade e “lexis”, linguagem. Portanto, dislexia é o nome que se dá à dificuldade que algumas crianças apresentam para aprender a ler, escrever ou para compreender o texto que leem.
Geralmente os disléxicos têm dificuldade em relacionar as letras com os sons que elas representam, invertem sua posição dentro da palavra, têm dificuldade em seguir instruções e em entender enunciados. Essa desordem no aprendizado da leitura e da escrita, às vezes, é confundida com desinteresse e má vontade do aluno ou como sinal de comprometimento da inteligência, uma conclusão equivocada porque essas pessoas costumam ser inteligentes e bastante criativas.
 
3-. Quais são os sinais de alerta para a dislexia?
 A criança com dislexia tem dificuldade franca na leitura desde a alfabetização. Tem uma tendência a troca de letras, inversões silábicas, omissões etc… a compreensão é dificultosa e geralmente subtotal. A disfunção impregna também a escrita, a forma das letras e eventualmente até a capacidade de elaborar cálculos matemáticos e de fixar a matéria.  É importante frisar que se deve sempre afastar outros problemas que possam estar mimetizando a dislexia, como problemas de visão, audição, déficit de atenção e mesmo problemas intelectuais ou emocionais.
 
4. Toda criança que apresenta dificuldade na leitura é disléxica?
 Nem toda criança com dificuldade para ler e escrever é disléxica. Mas certamente todo disléxico tem dificuldades para leitura, em algum grau. Por isso a dislexia é um diagnóstico de exceção, temos que ter clareza que não há outro distúrbio sensorial ou mental que justifique a dificuldade escolar. Outra questão é a própria inadequação do método de ensino em algumas situações. Por isso, o diagnóstico deve ser cauteloso e realizado com profissionais habilitados para tal.
 
5. Quais são os sinais precoces da dislexia, ou seja, antes da criança iniciar na escola?
 Esses sinais podem ser observados por meio do histórico evolutivo da criança. Compare se algum parente teve alguma dificuldade escolar ou se há portadores do distúrbio na família. Atrasos na aquisição da linguagem oral, problemas em guardar o nome dos objetos, aprender a cantar músicas ou brincadeiras também podem ser notados antes de a criança entrar na escola.
 
6. Como diagnosticar a dislexia?
A dislexia não é diagnosticada com exames de sangue e nem com tomografia ou ressonância. O diagnóstico aflora de uma consulta clínica direcionada e com testes de linguagem. Importante re-enfatizar que é fundamental excluir dificuldades sensoriais (dificuldade para enxergar ou ouvir, por exemplo) e mesmo outras doenças cerebrais que possam justificar melhor a dificuldade da utilização da linguagem. É também fundamental diferenciar a dislexia dos transtornos transitórios do aprendizado e mesmo das dificuldades referentes à má aplicação do método escolar.
 
7. Quais são os profissionais que fazem esse diagnóstico?
 O próprio pediatra que acompanha regularmente a criança pode, diante das queixas maternas, iniciar a investigação de dislexia. Em casos complexos é fundamental a participação do neurologista, neuropediatra e de profissionais da área de neuropsicologia, fonoaudiologia e psicopedagogia.
 
8. Como os pais podem ajudar os seus filhos disléxicos?
 Os pais devem estar atentos para o desenvolvimento da linguagem e a alfabetização da criança. Caso reconheçam o alguma dificuldade o médico da criança deverá ser imediatamente comunicado. Uma linha de tratamento deverá ser traçada e seguida em busca da otimização do resultado escolar. Da mesma forma que é importante diagnosticar a dislexia é importante que não haja estigmatização da criança e nem superproteção. A criança deve ser encorajada a superar suas dificuldades e receber o mesmo tratamento afetivo e social de qualquer outra criança sem dislexia.
 
9 -Qual o tratamento para os portadores de dislexia?
 A dislexia deve ser tratada com intervenções neuropsicológicas, psicopedagógicas e fonoaudiológicas. Nenhum método de reabilitação é totalmente eficaz, por isso a linha deve ser escolhida caso a caso. A meta não é a cura, uma vez que a dislexia é um distúrbio crônico e persiste, em algum grau, até a idade adulta. Quanto antes for instituída a terapêutica, melhor será o  resultado final em termos escolares e profissionais.

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